(Ronaldo Reis - 52 anos - setembro/2002)
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Em junho/2002 realizei o sonho de percorrer sozinho e a pé a parte final (a partir da cidade de Astorga) do Caminho de Santiago de Compostela (Espanha), pelo simples prazer de caminhar, sem nenhuma conotação mística ou religiosa, apenas percorrer uma região que sabia belíssima.
Já tinha tido outras oportunidades de viajar, mas de repente, em 2002, sem ainda saber a razão, senti vontade, um chamado, o desejo de percorrer.
Algo me "empurrou" para lá, sem nenhuma razão aparente, sem uma explicação lógica e clara, simplesmente eu tinha de seguir.
Foram aproximadamente 300km de caminhada desde a cidade de Astorga até Santiago da Compostela, 15 dias depois.
É muito difícil descrever as trilhas que percorri, a beleza, tranqüilidade, dúvidas, frio, chuva, sol, calor, solidão, alegria, amigos que nunca mais verei, a solidariedade humana entre pessoas desconhecidas vindas dos mais distantes países, sem falar o mesmo idioma, felizes pelo objetivo que nos unia, independente de nossas origens e crenças.
A Espanha é um país maravilhoso e os espanhóis pessoas muito boas e agradáveis.
Fui com o coração aberto, sem "buscar" nada em especial. A "força" do Caminho é inegável e tocou minha alma, especialmente nos muitos trechos em que percorri sozinho as trilhas que pareciam não ter fim, pensando, pensando...
O QUE ME TROUXE AQUI?
Sem eu saber o "inimigo" (um tumor cancerígeno) já estava oculto se desenvolvendo lentamente dentro da minha cabeça, sorrateiro, aguardando a hora de se mostrar repentinamente.
Em agosto/2002, após uma delicada neuro-cirurgia realizada aqui em Natal para retirada do tumor, durante o período de convalescência no Hospital, comecei a associar e melhor entender os motivos que me levaram ao Caminho.
- Ao percorrer o Caminho de Santiago eu, sem saber, estava sendo "preparado" para o que sucedeu comigo quando regressei ao Brasil, de forma a poder enfrentar o que passei, e o que ainda está por vir.
- A inegável "força, o magnetismo" do Caminho de Santiago, já percorrido por milhões de pessoas ao longo dos séculos, realmente me fortaleceu, me ajudou, evitou acontecer algo pior.
- Eu fui "chamado" para O Caminho por "Alguém" que sabia o real motivo de eu ter de percorre-lo naquele período.
- O cajado que me ajudou a percorrer o Caminho e que eu trouxe de volta comigo, sem nenhum motivo aparente, com toda a sua energia, ao ser colocado pela minha família na cabeceira de meu leito no hospital, certamente ajudou na minha recuperação.
- Nos 11 dias que estive internado, ao lembrar dos lugares, das pessoas, do muito de bom que passei, renovavam as minhas forças, e também o que me levou a percorrer O Caminho.
Independente de realidade ou coincidência, o Caminho de Santiago foi e sempre
será uma das experiências mais gratificantes da minha vida.
Rony, setembro/2002.
Janeiro/2003: - Terminei a radioterapia e a esperança é muito grande de ter superado a doença. Em março teremos a resposta.
Julho/2003: - Com muita alegria fui informado que o tumor foi eliminado. Agora é o controle preventivo anual.
"Só estando lá é possível se entender o que é o Caminho de Santiago"